O Panamá foi o único país, até agora, que nos mostrou problemas para entrar, problemas que nos custaram algum dinheiro que não estava nos nossos planos! Quando conseguimos finalmente voar de Bogotá e entrar no Panamá estávamos um pouco zangados mas soubemos livrar-nos desta opinião negativa e entrar com uma expectativa renovada!
Voamos com a VivaColombia, e por isso aterramos no aeroporto mais distante do centro da cidade e a única forma de irmos para o centro era de táxi. Os taxis custavam 30 dólares, mas rapidamente conseguimos um táxi que custou 25 dólares! Confesso que demoramos alguns minutos para aceitar, sabíamos que este era o preço (e até amigável), mas ainda não tínhamos tido tempo de nos adaptar aos preços do Panamá, muito mais caros que os da Colômbia, e tão caros como os Europeus! A Colômbia tinha sido tão boa para nós, até nesse aspecto, que era difícil encarar esta nova realidade.
Mas em pouco tempo estávamos no centro da cidade e tivemos uma espécie de passeio turístico e cultural porque o taxista era super simpático e explicou-nos tudo sobre aquele país e sobre os sítios que cruzávamos no caminho. No final, esta viagem de taxi foi custosa mas bem enriquecedora. Aprendemos que quase metade da população do Panamá era de países como Venezuela e Colômbia (o próprio taxista era Colombiano) e que os Panamenhos não eram muito fãs desta realidade.
Por ajuda do nosso amigo Cebaldo, um Panamenho que vive em Portugal, arranjamos o contacto de um Português, o João, que vive na Cidade do Panamá. Esperamos por ele no centro, num pequeno café, mas como ele estava a trabalhar, tivemos de esperar bastante! Não foi nada fácil para nós porque tínhamos acordado às 5 da manhã para apanhar o avião e estávamos mortos de cansaço, mas aproveitamos o tempo no café com internet para pôr algumas publicações em dia (precisamos sempre de tempo para estas coisas).
Seguimos para casa do João que ficava bem perto do centro, de um supermercado e do metro, o que para nós é perfeito! Assim aproveitamos os dias seguintes para visitar a Punta Pacífica e o centro novo da cidade, ambos com prédios enormes de perder a vista. Visitamos o Casco Viejo, para nós o lugar mais bonito da Cidade do Panamá, com as suas ruas antigas e os edifícios coloniais, bem ao nosso gosto! Daqui a vista para a cidade é lindíssima, e talvez bem mais bonita do que andar por lá no meio dos prédios, e as pessoas são amáveis, coisa que também não é assim tão facil encontrar pelo resto da cidade. A verdade é que muitos prédios continuam bem degradados, e nota-se a falta de importância dada ao turismo. Visitamos também a FANLYC (Fundação de Amigos dos Ninõs com Leucemia e Cancro), a fundação onde trabalha a Denis, uma senhora do Panamá e amiga do Cebaldo também. Através da Denis, fomos convidados para participar como voluntários num festival de estilos de vida saudáveis, promovido pela FANLYC. Esta fundação tem uma importância muito grande no Panamá, porque foi a primeira, há 20 anos, a apoiar crianças com cancro e as suas famílias, e a certa altura aperceberam-se que, melhor que educar os seus pais para estilos de vida saudável, seria educar toda a população do Panamá! E foi então que começaram a organizar este tipo de festivais!
O festival foi durante o fim de semana, mas já na quinta-feira à noite mudamo-nos com tudo para casa da Denis para facilitar as idas e vindas para a fundação e para a “Cidade do Saber”, o lugar onde decorreu o festival. Estando em sua casa, poderíamos fazê-lo de carro com ela! E na sexta-feira começamos o nosso trabalho: ajudar na montagem do festival. O nome do festival é Fest4u e, como dissemos, é um festival de estilos de vida saudáveis, um festival rico em palestras, workshops, partilhas, conversas e muitas aprendizagens, com o intuito de permitir que as pessoas reaprendam a cozinhar, a comer, a exercitar, a viver… principalmente para os pais destas crianças, que devem entender que a alimentação e a vida que a criança tem, influencia demasiado a sua saúde e, por isso, deve ser cuidada e preservada. Ou seja, um festival com um intuito maravilhoso! Sentimo-nos uns sortudos por puder fazer parte de tudo isto!
O João ficou encarregue de tirar fotografias a todos os eventos que estavam a acontecer: palestras nos auditórios, exposições, workshops de yoga, biodanza, massagens tailandesas, e muitas mais coisas no terraço, e no enorme espaço de fora (nos jardins), um parque para skates e patins, insufláveis, imensos jogos para crianças, um espaço de artes, um espaço de venda de comida saudável (cheio de coisas boas), um palco para os diversos concertos… e tantas outras coisas a acontecerem todas ao mesmo tempo. Arrisco a dizer, o difícil era escolher! Mas, como o João estava a fotografar todos os eventos, teve sempre possibilidade de assistir a um bocadinho de tudo. Já o meu trabalho era na organização das palestras, exposições e workshops, assim como no posto de informação, o que para mim também foi ótimo porque nos tempos mortos podia sempre assistir ao que queria e ainda podia praticar o meu espanhol ao responder a todas as perguntas que me faziam! No final, foi surpreendente para nós porque não tínhamos consciência que a nossa ajuda ia ser tão grande e que o festival seria tão interessante. Foi, sem dúvida, uma boa experiência! Este era o nosso trabalho durante o dia, mas também trabalhávamos muito durante a noite: enquanto o João cozinhava, eu ajudava a Denis a preparar tudo para o dia seguinte!
Depois do festival, ainda ficamos alguns dias em casa da Denis, que amavelmente nos recebeu. Visitamos Panamá Viejo, a parte ainda mais antiga da cidade, que está completamente em ruínas depois de ter sido queimada por um Pirata. Mas visitamos só pela parte de fora porque para entrar era preciso pagar um absurdo (tal como tudo deste género no Panamá) e por isso nem tiramos fotos. Depois deste episódio toda a cidade mudou para a zona onde é agora o Casco Viejo, que forma uma espécie de península, facilitando a sua defesa no caso de voltar a ser atacada por Piratas! Fomos ao famoso Mercado de Marisco (que temos melhor em Portugal claro, mas compramos e cozinhamos e estava delicioso) e voltamos a visitar o Casco Viejo, já que foi a parte que mais gostamos! No último dia visitamos a Conway que era o lugar preferido da Denis e onde ela fez questão de nos levar! A Conway é uma estrada que foi construída com a terra tirada do rio para construir o Canal do Panamá, que une o que antigamente seriam 3 ilhotas pequeninas. De facto é um sítio especial e muito muito bonito, ainda bem que lá fomos, a vista é maravilhosa e a tranquilidade é encantadora.
Uma falha da nossa passagem pela Cidade do Panamá foi não termos visitado o Canal do Panamá: canal construído pelos Americanos, principalmente, mas um bocado por pessoas de todas as nacionalidades, que atravessa o continente Americano, separando-o em dois! É um dos pontos fortes da economia do Panamá, porque cada barco que atravessa pelo canal tem de pagar um balúrdio, e dizem que uma das obras de engenharia mais impressionantes do mundo! Decidimos não visitar por uma razão muito muito simples: era muito caro (15 dólares por pessoa mais o transporte). Fica para a próxima!
Saímos desta etapa da viagem felizes, tal como saímos de todas as outras! Mas o Panamá continua a parecer-nos um país um pouco mais complicado que todos os outros, existem regras que não fazem sentido, atitudes que não se explicam, ou que pelo menos nós não encontrávamos explicação, que nos faziam ter de ultrapassar alguns desafios diários para que os dias pudessem correr o melhor possivel! As pessoas revelam algumas particularidades que as definiam por igual: todas são ligeiramente antipáticas, não por não gostarem da pessoa ou por quererem ser rudes, mas porque são um bocadinho desconfiados de tudo. Todas dizem que sim a tudo, mesmo quando sabem que deveriam ter dito não porque não vão conseguir fazer determinada coisa. Todos vivem com um pensamento de que podem deixar para amanhã o que não lhes apetecer fazer hoje. E sentimos também um enorme diferença da América do Sul para aqui, porque já não se sente tanto que as pessoas são quentes, amáveis, risonhas. E atenção, conhecemos pessoas bem dispostas, carinhosas e muito boas que nos receberam, nos ouviram e se interessaram por nós, mas esta foi uma sensação geral que tivemos e não conseguimos contrariar! Um exemplo foi no terminal de transportes, antes de apanhar o autocarro para ir até Bocas del Toro, era necessário pagar 10 centavos pela utilização do terminal (nada fora do normal). O problema aqui no Panamá é que era necessário comprar um cartão que custava 2 dólares (nós tínhamos um igual do metro, que não funcionava para isto, “sabe deus porquê”) e carregá-lo com um mínimo de 50 centavos. Para além de obrigarem as pessoas a gastar 2,50 dólares quando só necessitariam de gastar 10 centavos, obrigam-te a comprar um cartão que muitas vezes vai para o lixo logo de seguida! Outro exemplo é termos sido proibidos de comer no autocarro, pela primeira vez desde o início da nossa viagem! É claro que comemos na mesma.
Mas lá partimos para Bocas del Toro ainda sem nada definido do que iríamos fazer, a não ser que queríamos trabalhar num hostel em regime de voluntariado. Resolvemos ir e tentar a nossa sorte lá, com a missão de perguntar em todos os hotéis e hostels das redondezas se poderíamos trabalhar em troca de estadia e possivelmente alimentação!
Bocas é um paraíso imenso, os nossos olhos tinham dificuldade em acreditar no que estavam a ver. Os primeiros dias passamos a percorrer toda a ilha de Colón (a principal e mais conhecida) à procura de um lugar para trabalhar. Ao fim de alguns dias e mal sucedidos na nossa procura, decidimos que o melhor era aceitar e aproveitar um tempo naquele paraíso e seguirmos o nosso caminho até ao próximo destino. Entendemos que ficar neste lugar à espera de uma resposta, que não sabíamos quando chegaria e que poderia ser negativa, nos ia custar mais do que seguir a viagem e procurar mais à frente, porque se os preços do Panamá já eram caros, os destas ilhas são demasiado para qualquer pessoa, principalmente para nós. E de certa forma estávamos contentes de não ter encontrado nada, porque era tudo tão caro que mesmo não pagando hostel, só o preço da comida seria um absurdo no nosso agora reduzido orçamento!
A única coisa que era relativamente barata, felizmente, eram os preços dos tours e dos transportes (bus e barco) até às praias ao redor! O primeiro tour que fizemos deixou-nos extasiados de felicidade durante todo o dia: vimos golfinhos, estrelas do mar e macacos, estivemos numa praia numa ilha deserta (daquelas que só se vêm nos filmes) com a água transparente onde conseguíamos ver todo o nosso corpo debaixo da água quente e com a areia branca, fizemos snorkling no meio daquele mar imenso com os peixinhos a nadar junto a nós e voltamos para a nossa ilha em passeios de barco onde os olhos não conseguem fechar.
Visitamos também a praia Estrella que, como se percebe pelo nome, está cheia de estrelas do mar (difícil é não as calcar) e fica na mesma ilha onde estamos hospedados. No último dia, visitamos a praia Red Frog, que fica noutra ilha, também ela de uma beleza inquestionável.
Estes dias foram dias de muita energia, muito descanso e muita admiração. Somos realmente uns sortudos por visitarmos lugares como este.
E deixamos o Panamá para entrarmos em Costa Rica: a próxima aventura!