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Costa Rica

Deixamos o Panamá e atravessamos para a próxima aventura por uma das fronteiras mais estranhas que já passamos, a fronteira de Sixaola.

Como não tínhamos conseguido voar da Colômbia para o Panamá sem um bilhete de saída, marcamos já antes de entrar no Panamá um serviço shuttle que nos levaria até à Costa Rica, acompanhando-nos por toda a fronteira. E assim foi! Depois de um barco de Bocas de Toro até à pequena cidade mais próxima, uma carrinha da agência levou-nos até à fronteira, que era uma rua estreita com prédios muito velhos e sem grande movimento, com uma linha de comboio abandonado, tudo com um ar um pouco fantasmagórico. Levamos apenas o passaporte para um dos edifícios, onde todos recebemos o carimbo que nos permitia sair do Panamá. Voltamos à carrinha onde tínhamos deixado as nossas malas, e já só lá estavam as malas e um senhor a dizer que tínhamos de atravessar a pequena ponte que unia os dois países de malas às costas, nada fora do normal. Fora do normal foi termos de pagar 4$ para poder sair do país, coisa que ia acontecer em todos os países a partir de agora. Ficamos zangados porque apesar de não termos de pagar visto para entrar nos países da América Central, em todos temos de pagar entrada ou saída, que vai dar ao mesmo! E para além disso depois ninguém verificou se realmente tínhamos pago ou não!

Depois de atravessarmos a pequena ponte, a entrada na Costa Rica foi fácil e sem problemas e outra carrinha já estava à nossa espera deste lado, e deixou-nos mesmo à entrada do hostel em Puerto Viejo de Talamanca.

E nunca tínhamos estado num hostel assim! Era um hostel enorme, com uma zona de camping cheia de tendas e super bonita, o hostel tinha todas as paredes e o chão cobertos de azulejos coloridos. Tinha sido construído ao longo dos tempos com a ajuda dos hóspedes também, e muitos deixavam por lá bens pessoais encrostados nas paredes. A melhor parte é que o hostel tinha uma praia privada, pois as traseiras iam dar a uma prainha paradisíaca! Para além disto tudo, conseguimos um preço muito bom por estarmos a acampar com a nossa tenda, que nos levou a decidir ficar lá três noites!

E aproveitamos os dias seguintes para passear pela pequena vila, com restaurantes, bares e várias lojas de artesanato. Dizem que lá não estamos na Costa Rica mas sim na Jamaica, e de facto deu essa sensação porque o povo era, em grande parte, Afro-descendente e tinham todos grandes rastas como nunca tínhamos visto! Já para não falar que quando não estavam a fumar erva estavam a enrolar. O normal era entrar numa loja e eles oferecerem o charro para fumarmos também! Mais tarde ficamos a saber que aquela zona tem muitos Afro-descendentes porque há uns (muitos) anos atrás muitos foram para lá para construir a linha férrea, que no passado atravessava toda a Costa Rica.

Mas acima de tudo aproveitamos estes dias para desfrutar das praias, no Mar das Caraíbas!! E que praias! Estávamos no paraíso: água quente (até quente demais) e transparente, muitas piscinas naturais, uma paisagem maravilhosa e dias de muito calor. Passamos dias muito bons nas praias em frente ao hostel e ao longo da vila, mas já nos tinham falado das outras praias que se estendem pela costa e como seria bom conhecê-las também. E claro, foi isso que fizemos com o Mark e a Nikki, um casal de Australianos com quem tínhamos estado a falar uns minutos no Panamá, em Bocas del Toro, e que estavam também em Puerto Viejo de Talamanca, num hostel do outro lado da rua, em frente do nosso! Por sugestão deles, alugamos umas bicicletas (5 $ por dia), compramos comida e fomos os 4 pela costa a parar em cada uma das praias para conhecer. Fomos o mais sul possível, até à vila e praia de Manzanillo, e depois viemos a parar em todas as praias: Punta Uva, Chiquita e Cocles! Punta Uva era requisitada pelo snorkling e Cocles pelo surf. Mas a mas a praia Chiquita foi a que mais encantou, um verdadeiro paraíso escondido, estávamos praticamente sozinhos naquela praia e era um absurdo de tão bonita. Nem sequer tinha estrada nem sinalização para a praia, tivemos que atravessar uns campos e por isso mesmo era tão deserta! Pelo caminho de bicicleta ainda vimos uma preguiça a atravessar a estrada! É claro que paramos logo para tirar mil selfies com aquele animal que se mexe à velocidade de caracol, mas que nos olha como se fosse uma velhota que nos faz um olhar recriminador por não a ajudarmos a atravessar a estrada!

No dia seguinte despedimo-nos desta calma, deste calor, desta vida tão boa e apanhamos um autocarro para San Jose, a capital. A nossa ideia inicial, quando começamos a planear a viagem, era passar uns tempos pela Costa Rica, mas a verdade é que verificamos o que muita gente nos foi dizendo: é um país caro, talvez o mais caro por onde viajamos! Portanto a nossa ideia era passar uma noite na capital só para não irmos diretos até Nicaragua. Escusado será dizer que estes planos mudaram, para muito muito melhor, nem podíamos imaginar as coisas boas que iam acontecer nos dias seguintes.

Um amigo nosso tinha-nos dado um contacto da Laura, uma rapariga da Costa Rica que ele conheceu quando ela estava em Portugal a fazer um intercâmbio, a estudar na nossa cidade! Nós enviamos-lhe uma mensagem e ela disse logo que nos recebia em sua casa, em San José, e que nos ia buscar ao terminal dos autocarros.

Foi uma surpresa, ela sabia falar bastante bem Português! Levou-nos a um passeio rápido pelo centro da cidade, porque era dia de festa, mas nós estávamos cansados, portanto  fomos para casa. Em casa estavam à nossa espera o Rodrigo e a Silvia, os pais da Lau, com uma bela duma lasanha pronta para o jantar, com muitos sorrisos, um quarto só para nós e muito conforto. Para além de dois mini cães que só pararam de ladrar uma semana depois, dois cães grandes e dois coelhos! Jantamos, com esta família que tão bem nos acolheu e partilhamos com eles toda a nossa história. Acabamos por ir sair um pouco com a Lau, a um bar de cervejas artesanais chamado Craic. Pelos vistos por lá também andam na moda, uma vez que a escolha era entre umas mil diferentes. Provamos duas e, segundo o João (mais entendido no assunto), eram muito boas! Conversamos muito, e ficamos a conhecer melhor a Lau, foi muito bom, e depois voltamos cedo para casa para descansarmos. Os dias seguintes foram passados num enorme conforto, bem instalados, a descansar e a comer bem e em ótimas conversas com a família.

No dia seguinte a Lau trabalhava, então foi a Silvia que nos levou a passear. Fomos no Julius. Quem é esse, perguntam vocês? Parece o nome de um cavalo, mas é o Jipe lá de casa, que acabou por ser nosso companheiro de viagem. Nesse dia visitamos o Vulcão Poás, que acabamos por não conseguir ver por estar completamente tapado pelas nuvens. A verdade é que combinamos ir cedo mas acabamos por chegar muito tarde, lá para o meio dia. Mas valeu bem a pena porque toda a viagem até lá é lindíssima, e ainda aproveitamos para comer os morangos mais famosos da Costa Rica, os morangos do vulcão, em época do Festival dos Morangos! Mas o melhor de tudo ainda estava para vir, fomos almoçar ao “La Paz Waterfall Gardens Nature Park”, que era uma espécie de jardim zoológico/retiro espiritual/rio com cascatas/restaurante, tudo ao mesmo tempo. A Silvia ofereceu-nos o almoço, que era buffet, e nós comemos aquela comida deliciosa que nem um desalmados! Depois do almoço, um bocado a rebolar, fomos visitar os milhares de animais do zoo e passear pelas cascatas. Vimos borboletas, rãs, corujas, papagaios e muitos outros, mas os mais impressionantes foram os Tucanos e os Jaguares! Se bem que os Jaguares estavam stressados, o que nos deixou um bocado pensativos: se por um lado os Zoos são importantes porque até podem contribuir para a conservação de espécies em vias de extinção, para a investigação e também para a familiarização e talvez até afeição das espécies animais por parte dos seres humanos que as visitam, por outro existem espécies que não são claramente felizes a viver sobre quatro paredes feitas de vidro (e para nós esta parte pesa muito mais)!

No último dia visitamos também o centro da cidade: o mercado, as igrejas, os museus e o teatro Nacional. Gostamos imenso, embora não deixe de ser uma capital, sem muito de novo para descobrir, e portanto um dia chegou para matar a nossa curiosidade. No entanto, encantamo-nos com as ruas e as pessoas e principalmente com os souvenirs no mercado, claro! Com a Silvia aprendemos duas coisas muito importantes: porque é que o povo da Costa Rica se chama Ticos e o que quer dizer “Pura Vida”, uma expressão que eles estão sempre a dizer. São Ticos porque, para além de serem pequeninos, em geral, usam muito o diminutivo nos adjectivos: chiquitico/calientico/etc; e o Pura Vida é quase uma exaltação à existência, usam a toda a hora como substituição ao olá/adeus/boa tarde/até amanha/sim/obrigado e significa precisamente que a vida é pura e é uma felicidade! Pura Vida diz muito sobre os Ticos e sobre estes dias por terras Ticas!

O mais caricato é que ainda houve tempo para uma entrevista! Sim, é verdade! Um entrevista para a televisão da Costa Rica. Um entrevista que demos em casa deles, na sala de estar e que foi totalmente em espanhol (um enorme desafio para nós). E tudo isto porque a Silvia é jornalista e achou a nossa história realmente interessante para partilhar. E não foi uma entrevista qualquer foi para um dos canais televisivos principais, e passou no telejornal.

Em poucos dias criamos laços que, com certeza, serão difíceis de esquecer. A Sílvia e o Rodrigo foram um bocadinho nossos pais e a Lau foi muito mais do que uma amiga, uma irmãzinha. São a nossa família da Costa Rica! Mas estávamos prontos para a despedida, mais uma vez. Tínhamos de continuar o nossos percurso! Combinamos encontrar-nos em Portugal e prometemos manter o contacto.

Estávamos prontos para partir e eis que a Lau aparece com uma proposta, que digo desde já que era totalmente irrecusável! Uma road trip no jipe dela, no Julios, pela costa do Pacífico, pela península de Guanacaste, partir terça e voltar sábado. Havia forma de dizer não? Claro que não, não só porque é precisamente disto que se trata a viagem mas também porque vamos percorrer praias das mais bonitas do mundo! E foi com um estalar de dedos que abandonamos o nosso plano de ficar apenas mais dois dias na Costa Rica e ir para a Nicarágua.

Na terça-feira, prontos para mais uma aventura, com o essencial no carro e muita comida, fomos para Tamarindo. Uma vila à beira mar, cheia de vida e movimento! Cheia de luzes e lojinhas e pessoas na rua. Cheia de música e encanto. Passamos a noite num hostel e no dia seguinte percorremos algumas praias naquela zona: Tamarindo, Minas, Conchal e Bahia dos Piratas. Todas incrivelmente bonitas, embora bem diferentes das de Puerto Viejo de Talamanca que tínhamos visitado. Estas, que não eram mar das Caraíbas, tinham já a água mais agitada e, segundo a Lau, eram bem mais frias. Para nós, continuavam a ser praias de água muito quente e transparente mas com ondas! A praia Conchal era especialmente bonita pelas árvores estendidas ao redor de toda a costa e por em vez de ter areia, ter conchas. Em toda a praia!

Partimos para Samara ao fim do dia, onde vive a Michele, amiga da Lau. Chegamos à noite, cozinhamos e dormimos todos em casa dela. No dia seguinte já tínhamos uma nova rota de praias para seguir: Barrigona, Carillo e Samara. Todas elas muito especiais, novamente. Passamos mais um dia memorável e terminamo-lo novamente em Samara e já com a Michele, num barzinho na praia, com os pés na areia, cheio de luzes e cores. E vimos o céu escurecer naquele lugar enquanto bebíamos um mojito! E a vida que é tão boa connosco!

No dia seguinte arrancamos para a tão famosa praia de Santa Teresa. Encontramos um hostel onde pousamos as coisas e corremos para a praia, que não desiludiu. À medida que as cores do céu iam mudando, o mar ir enchendo de surfistas. E o pôr-do-sol foi tão incrível que é difícil descrever. Todos os surfistas no mar, uma luz avermelhada, linda, e um entardecer sentados na praia.

À noite no hostel, enquanto cozinhávamos ouvíamos Português! Conhecemos duas meninas Portuguesas que estavam a fazer voluntariado na Costa Rica. A Ana e a Benedita alegraram-nos por, finalmente, conhecermos Portugueses a viajar e conversamos durante muito tempo. E esta era a nossa última noite.

A vila de Santa Teresa é incrível, cheia de identidade, mas uma identidade bem diferente daquela que esperávamos. Não é uma vila de Ticos, é uma vila de surfistas completamente virada para este tipo de turismo. É uma vila que por acaso é na Costa Rica, mas podia ser noutro sitio qualquer, como nos Estados Unidos, e seria igual, porque em todo lado se fala inglês e só se vêm estrangeiros.

Acordamos e corremos mais uma vez para a praia, que estava preciosa naquela manhã. A vontade de ir embora era tão pouca! Mas tínhamos de ir, apanhamos um ferry e umas horas depois estávamos novamente em casa, com uma mega missão pela frente: tínhamos enviado de santa teresa uma lista de ingredientes que precisávamos para cozinhar assim que chegássemos: era noite de francesinhas! A comida que a Lau adorou quando esteve em Portugal e nos pediu para fazer.

Era a primeira vez que fazíamos francesinhas, mas segundo a receita da Lurdecas (mãe da Tamára), nada podia correr mal. A Sílvia e o Rodrigo estavam curiosos e ansiosos e todos ajudaram um bocadinho na cozinha e as francesinhas ficaram prontas! E todos se renderam! Cozinhar francesinhas não é fácil, muito menos na Costa Rica, mas acho que nos safamos bem!

O jantar estava delicioso e cheio de cumplicidade e conversas com esta família que era tão boa. Estavam todos bem dispostos e a recusar a inevitável despedida. Ofereceram-nos presentes, para que não nos esquecesse-mos do que lá vivemos. Ofereceram-nos t-shirts “Pura Vida”, uma nota de 5 colones (moeda nacional) que tem uma história interessante para os Ticos, um porta-chaves ao João e um guarda jóias feito na melhor madeira da costa rica para a Tamára! Estávamos tão felizes que não queríamos ir. O mais querido foi que também nós tínhamos planeado deixar algumas recordações: demos à Lau uma das t-shirts com o logo Follow the Sun para que não esquecessem de nós, do nosso projeto e da nossa viagem e do quanto nos ajudaram. Retribuímos com o que tínhamos e com abraços sinceros. Para além disso no dia seguinte, de manhã bem cedo, antes de partirmos deixamos num quarto uma carta escrita por nós para aquela família e um presépio feito numa semente que tínhamos comprado no Panamá! Fazia todo o sentido pela família que são e pela família que foram para nós. Na carta tínhamos uma mensagem que trouxemos do festival no Panamá: “Não há medicina que cure o que não cura a felicidade”. E isto teve um valor muito importante para nós naquele momento, e foi algo que aprendemos também com o pai da Lau, que está em processos de cura de uma doença, facto do qual só nos apercebemos porque a Silvia nos disse. E se ela não nos tivesse dito nada, não saberíamos, porque a felicidade dele (e deles) era muito maior que a dificuldade daquilo que estavam a passar 🙂

Com a esperança de os vermos em breve e Portugal, despedimo-nos cheios de amor e comida para a viagem. A Sílvia preparou-nos imensos snacks e coisas que nos iam durar para vários dias! Não havia forma de agradecermos tudo isto!

Realmente, muito mais do que lugares, viajar é conhecer pessoas. Pessoas que nos fazem sentir bem, que nos fazer ser melhores, que nos ensinam e nos enriquecem, em tão pouco tempo. E a Costa Rica voltou a mostrar-nos isso tão bem! Próxima missão: trabalhar num Hostel em Nicarágua!!

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