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Colombia

A Colombia é um país do qual toda a gente tem opinião, e normalmente é sempre negativa. A verdade é que entramos com alguns (poucos) preconceitos, mas saímos maravilhados. A fronteira do Ecuador com a Colombia que na cabeça de muitas pessoas, incluindo a nossa, seria uma grande confusão, foi, no entanto, uma das mais fáceis de passar. Estava vazia, entramos e saímos com o carimbo no passaporte em menos de 10 minutos. Sorte ou não, foi esta a nossa realidade!

O inicio da nossa estadia pela Colombia teve um gosto especial porque estávamos a viajar com a Jone e o Soren, os nossos amigos que conhecemos no voluntariado do Ecuador! Saímos os 4 de Puerto Lopez para a aventura! E nós adoramos viajar com pessoas de quem gostamos e que encontramos nos nossos caminhos por aqui.

Seguimos para uma pequena terra, Ipiales, que sabíamos que a única coisa realmente turística que tinha era um santuário. Entramos num hotel, o mais falado na internet como o mais barato (mesmo sendo um hotel e não um hostel) e disseram-nos que o preço eram 10.000 COP por pessoa por um quarto com casa de banho. Ou seja, cada um de nós pagou menos de 3 euros por uma noite naquele hotel que tinha mais condições do que muitos em que já ficamos. Aceitamos logo!! As boas vindas à Colômbia (e aos preços da Colômbia) começam super bem.

Já que o Santuário era o único ponto turístico da cidade, fomos logo visitá-lo! Não é turístico por ser uma igreja. Não é isso que o faz ser bonito. O Santuário Las Lajas é um lugar de muita devoção, de muita ajuda e de muita crença. O caminho de pedra até lá é marcado por preces, por agradecimentos, por devoções e por crenças de pessoas que sofreram e sofrem por alguma razão e que encontram ajuda e paz naquele lugar e, por isso, cravam na parede aquilo que sentem. Acreditam que este lugar é dono de grandes milagres e lá esperam ver os seus pedidos realizados. E chegando ao santuário, entende-se a grandeza daquele lugar! Um igreja construída entre duas montanhas, com o rio a passar em baixo e a paisagem lindíssima para uma cascata. A paz e a serenidade que se sente naquele lugar é verdadeira e inexplicável!

Apanhamos um autocarro noturno para viajar de Ipiales a Popayan, onde íamos passar o dia e nessa mesma noite seguir para Medellin, o que seria outra noite de viagem. Duas noites seguidas faziam-nos poupar dinheiro em hostels mas também poupar tempo! O problema é que o autocarro, que deveria ter chegado a Popayan de manha, segundo o que nos tinham dito, chegou às 4 da manhã! Conclusão, mais uma vez nos mentiram (normal na América do Sul) e não dormimos nada! Popayan é conhecida como a “cidade branca”: no centro histórico da cidade todos os edifícios e casas são brancos, o que transmite alegria e calma. Percorremos todas as ruas do centro, que são realmente bonitas e deixamo-nos levar pelo encanto que esta pequena cidade tem. Mas tivemos um final de dia bem complicado, porque ficamos os dois bem doentes, por um conjunto de factores, a que uma noite por dormir não ajudou. Isto para quem viaja é o pior que pode acontecer: mochilas às costas e dores no corpo, uma cidade inteira para conhecer mas muita febre, calor mas muitas dores de cabeça, vontade mas cansaço. E mais do que isso, este era um dia de despedidas. Deixamos os nossos amigos, porque eles tinham que voltar para o Ecuador, e seguimos para Medellin nesse mesmo dia!

Chegamos a Medellin e fomos diretos para Santa Fé de Antioquia, onde o Nelson, um Português, dono de um hotel, nos ofereceu uma noite com todas as refeições! Estávamos super entusiasmados, mas tão doentes. E ele não imagina, mas ofereceu-nos muito mais do que uma noite e refeições. Ofereceu-nos a possibilidade de conhecer aquela pequena cidade maravilhosa que nos fez lembrar o nosso Alentejo. E a possibilidade de ficar num lugar tão bonito e tão confortável como o Kongo Boutique Hotel. Ofereceu-nos comidinha caseira, a horas certas, que nos ajudou a recuperar. Ofereceu-nos uma noite bem dormida e um bom chuveiro. Uma piscina onde passamos duas belas tardes e um lugar para recuperar energias. Mais do que tudo, ofereceu-nos também a sua companhia e da sua mulher, Beatriz. Boleia de volta para Medellin. Uma boa dose de conversa. A nostalgia de voltar a ouvir português. Ofereceu-nos carinho e fez-nos sentir super acolhidos e felizes. Escusado será dizer que saímos praticamente recuperados!

Em Medellin visitamos os pontos turísticos, passeamos pela cidade e ainda fizemos uma viagem em teleférico. É uma cidade bem diferente do que vimos até agora, bem desenvolvida, com zonas de bares e restaurantes super modernos, com lojas e shoppings, com metro, com movimento e muita vida. Mas também muitos bairros, muito lixo. O rio que passa pela cidade é capaz de ter sido o rio mais sujo que vimos! Passamos só uma noite em Medellin e ficamos num hostel que é possivelmente o local mais estranho onde estivemos! Parecia tudo menos um hostel, nada estava completamente construído, estávamos sozinhos e ficamos num quarto sem janelas numa cave. Foi muito estranho e saímos de lá mal acordamos.

E seguimos para mais uma pequenina cidade: El Peñol, onde ficamos em casa da Família do Felipe que nos acolheu e nos mostrou toda a cidade, as suas culturas e costumes. Partilharam connosco tudo o que tinham e admiraram-se por ao pequeno-almoço não conseguirmos comer tudo o que nos davam (carne, arroz, ovos mexidos, arepa, queijo e chocolate quente)!!! Admiraram-se por bebermos tanta água e não comermos as mesmas coisas, por não falarmos a mesma língua e por os nossos pais serem agora virtuais para nós e por ser tudo tão diferente. Pediam para contarmos mais, explicarmos mais e nós agradecíamos como nos tratavam. Uma generosidade sem tamanho! Foi uma experiência maravilhosa! E subimos a tão famosa “Pedra” e visitamos a cidade de Guatapé, que é mais um lugar amoroso, colorido e cheio de surpresas. Esta zona tornou-se turística devido à criação da enorme represa que inundou todas as terras das redondezas!

Mais uma vez as pessoas fazem os sítios: fomos parar a El Peñol porque o João, um português (que nós não conhecemos pessoalmente) que lá esteve a fazer voluntariado, não desistiu de mandar-nos mensagens enquanto não nos convenceu a ir lá parar. O carinho que todos sentiam por ele passou para nós e essa sensação é inexplicável. Sentimo-nos acolhidos e agradecidos, foi uma experiência espetacular! Fomos sair com os amigos todos dele, a beber água ardente Antioquenha, que sabe a remédio, e divertimo-nos como se estivéssemos em Portugal!

Antes de partirmos para o norte da Colômbia, para Cartagena, tivemos que voltar para Medellin. Íamos passar a tarde no terminal à espera do autocarro (pensávamos nós)! Quando o Nelson e a Beatriz souberam que estávamos de novo por Medellin vieram-nos buscar ao terminal, levaram-nos a passear pelo Pueblito Paisa, ofereceram-nos o jantar e, isto deixou-nos sem palavras, levaram-nos às compras para que nos pudessem comprar comida para a viagem! Este acto demonstrou um carinho e uma atenção especial, de pessoas especiais, que ainda agora a escrevermos isto nos arrepia e nos deixa um sorriso no rosto 🙂

E lá fomos nós, muito felizes e muito, mas muito entusiasmados! Chegamos a Cartagena e, apesar das viagens de autocarro que fizemos dentro da cidade terem sido demasiado más para ser verdade, a cidade em si é uma realidade sem igual, totalmente diferente do resto da Colômbia até agora. Vêem-se turistas, muitos. Glamour e as melhores lojas. Restaurantes apetecíveis. Artesanato que queremos comprar e hotéis ainda melhores. Vêem-se casas às cores e flores à varanda. Vê-se, ao por-do-sol, igrejas pequeninas iluminadas e carroças puxadas por cavalos com turistas. Vê-se toda a beleza da cidade com luzes. Ruas sem fim. E rumba, em cada esquina. Alegria que não acaba e pessoas felizes. Cartagena respira um clima diferente de qualquer cidade que tenhamos visitado 🙂

E tudo isto com a companhia da Carolina!! Mais uma portuguesa, mais uma amiga, mais uma alegria na nossa viagem. Com a Carolina seguimos para Santa Marta e nesta viagem tivemos o primeiro grande susto! O autocarro encurralado com pedras, troncos de árvores e motas, à frente e atrás, numa vilazinha no meio de nada. E moradores revoltados, a falar tão rápido que eu não entendia o que se passava. E pobreza, muita. E nós os únicos turistas a bordo. 2 horas de susto, confessamos. Mas que se resolveram, calmamente. As pessoas da vila protestavam a falta de luz e água e esta era a forma de chamar a atenção de pessoas superiores.

Passada esta situação e chegados a Santa Marta, 8 horas depois, descansamos para no dia seguinte partirmos, cheios de energia, para o Parque Natural de Tayrona!

No Tayrona visitamos as partes mais turísticas: Cabo San Juan, Arrecifes, Piscina e Pueblito, mas o que mais nos marcou (por dica da nossa querida Carolina) foi a Playa Brava. Um verdadeiro paraíso escondido no meio da imensa floresta. Uma praia paradisíaca, com acesso a muito pouco e com uma beleza sem tamanho. Um lugar de tranquilidade e paz, com muito pouco turismo (ao contrário de todos os outros lugares). E aqui decidimos passar a maior parte dos nossos dias no parque. A tenda debaixo de uma árvore gigante com vista privilegiada ao mar. Um mar só para nós. O céu e a lua e todas as estrelas, todas as noites. A fogueira que iluminava toda a praia. Tardes de escrita e de leitura. E de conversas na cozinha. Noites de partilha com os trabalhadores da quinta à luz das velas. Com montanhas à volta e o som de vários animais. Com o silêncio. Com o acordar dos pássaros. E a fruta caída das árvores. Com aprendizagens, sobre os indígenas – os Tayrona, sobre a floresta e os animais. E a história daquele lugar.

E a felicidade na Playa Brava é isto. É tudo rústico, simples e natural. Mas é tudo verdadeiro, real, próximo ao que devia ser a nossa vida na terra. Próximo do que devíamos sentir cada vez mais e não o contrário. Próximo do que nos faz ser mais nós.

Os outros sítios são também eles bonitos, mas invadidos por pessoas, filas de espera, restaurantes, cacifos, falta de espaço, barulho, lixo no chão e sons de geradores. Por isso, não, não trocamos a Playa Brava por nada! Mas para além de todo este paraíso, foram dias de duras caminhadas pela floresta. A maior parte delas, os dois sozinhos, de mochilas às costas. Foram dias de esforço mas de grande admiração pelo sons dos animais, pelas paisagens, pela nossa resistencia e motivação ao continuar sempre mais um bocadinho até chegarmos a outro ponto turístico. Foram dias que valeram tanto a pena e que nos deixaram de coração e espírito cheios!

Última paragem: Bogotá! Fomos, mais uma vez, acolhidos por um Português. Mas não é só um Português. Fomos acolhidos pelo Ricardo! Que agora é amigo! Que agora merece o nosso enorme agradecimento. Que merece um jantar à Português quando voltarmos todos a Portugal. Que nos recebeu como amigos. Que nos recebeu à bom português, com boa comida e um bom café. Que abriu a sua casa para nós e nos fez sentir o mais confortável possível. Que ouviu as mil histórias do João, sempre com todo o entusiasmo. E que me ajudou a tratar das mazelas que os mosquitos deixaram nas minhas pernas e que não me deixavam dormir. O Ricardo partilhou connosco tudo o que tinha, incluindo a casa, a comida, os amigos e o gosto pela cidade. Levou-nos aos melhores lugares e fez-nos ver Bogotá da maneira que ele vê também. Nós adoramos a cidade e os nossos dias lá! O Ricardo fez o que mais ninguém conseguiu: fez de Bogotá a única cidade onde nos imaginamos a viver por um tempo, fora do nosso Portugal.

Para além do Ricardo conhecemos mais portugueses. Com a Sarah e o Zé fomos passar um dia inteiro, primeiro de bicicleta e depois de carro a visitar os miradores da cidade! Ainda nos ofereceram o almoço e melhor: uma garrafinha de vinho alentejano 🙂

E chegou o dia em que, supostamente, voávamos de Bogotá para a Cidade do Panamá, o nosso primeiro voo desde que começamos a viagem. Já nos tinham avisado que precisávamos de ter uma morada do lugar onde íamos ficar lá, antes de embarcar. E tínhamos! Mas quando estávamos à espera para o check in, surpreenderam-nos com o facto de ser necessário ter um voo de saída da Cidade do Panamá para outro lugar em menos de 3 meses, para comprovar a nossa saída do país. E isso, nós não tínhamos!

Mas tínhamos sim outros voos em meses de três meses, todos eles fora do Panamá. O voo de Mérida para a Cidade do México, da Cidade do México para Nova Iorque e de Nova Iorque para Portugal. Mas disseram-nos que não, que não comprovava nada. Que teria de ser um voo da Cidade do Panamá para outro lugar. Uma senhora disse-nos então que só tínhamos de reservar um voo ou uma viagem de autocarro, mesmo que depois não utilizássemos. Então, corremos rapidamente para o lugar da internet e tentamos reservar uma viagem de autocarro, o que foi impossível. Os sites de autocarros do Panamá não funcionam bem na internet e pedem sempre para ligar ou ir lá marcar. Desistimos e passamos ao passo seguinte! Tentamos marcar um voo do Panamá para a Costa Rica, e conseguimos. Fizemos a reserva, imprimimos e fomos de volta para o check in. Mas no check in disseram-nos que a reserva tem de ser uma reserva paga! Eles querem a certeza que não vamos ficar no Panamá!!!!!

Tudo começou a ficar cada vez mais complicado. O tempo ia passando, nós estávamos cada vez mais nervosos e os senhores cada vez mais rudes. Estávamos a ficar sem tempo e não queríamos perder o voo e pagar uma multa por não termos embarcado, por isso, cancelamos o voo e adiamos para uns dias depois! Ligamos logo ao Ricardo, que voltou a acolher-nos sem hesitar. Voltamos para casa para decidirmos o que fazer e para aproveitar mais uns dias em Bogotá!

Estávamos tristes porque com tudo isto tínhamos gasto dinheiro extra desnecessário e, para além disto, já não íamos poder estar com a família de Portugueses que estavam de férias na Cidade do Panamá e nos convidaram, com tanto carinho, para nos encontrarmos com eles! Mas como até das aparentes más situações, coisas boas aparecem…

Era Páscoa e o Ricardo não nos deixou ficar tristes em casa a pensar no que poderia ter sido e não foi! No sábado cozinhamos para uns amigos dele e gostamos tanto de estar uns com os outros que, no domingo de Páscoa, fomos todos para casa do Paulo, um grandalhão com um grande coração que nos ensinou cheio de entusiasmo a fazer arepas: resultado incrível, afinal agora podemos dizer que adoramos arepas 😀

No final a Colômbia, um dos países que mais temíamos pelo perigo que todos descrevem, tornou-se a maior surpresa e uma enorme paixão. Um país cheio de coisas boas. Cheio de pessoas simpáticas e prontas para a ajudar, ainda que com o seu jeito matreiro de fazer e dizer as coisas. Um países cheio de vida e muito alegria. Ao som da rumba e da salsa. Um país quente, de boa comida e bom ambiente. A Colômbia foi um verdadeiro encanto. E é mais do que certo que voltaremos!

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