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Bolívia

Entramos na Bolívia pelo melhor que ela tem para oferecer, o Salar do Uyuni, e acreditem é irreal ver e viver as imensas paisagens deste deserto! Mas ao fim de 4 dias estávamos em Uyuni e já se sente uma enorme diferença entre a Bolivia e o que vimos até agora. Esta cidade, embora com vida e movimento, ao passar de autocarro parece deserta.

Mas descemos do autocarro de malas e bagagens à procura do terminal e do melhor preço para seguir para Potosí. As ruas estão cheias de pessoas a vender as mais diferentes coisas e todas estas pessoas gritam para dizerem o que vendem. Então foi fácil, seguimos as vozes “Potosi, Potosi! Potosí, Potosí!” e encontramos muitas ofertas. Perguntamos o preço e só de nos virarmos para ver outros preços, para averiguar outras agências, o preço inicial baixava logo e assim compramos a viagem para Potosí a um preço muito bom, mais baixo do que pediam.

Do Uyuni não conhecemos nada mais do que o centro e o terminal dos autocarro e sentimo-nos, pela primeira vez, como verdadeiros turistas. Nós éramos os estranhos no meio de todos. Nós éramos os diferentes. Os que eram recebidos com olhares desconfiados e risos indiscretos de quem vê algo que não conhece, que lhe parece absurdo. E compreende-se, mas foi uma sensação nova, porque para nós os estranhos são eles, no bom sentido! São estranhos por serem diferentes de nós, diferente daquilo que estamos habituados a ver… São estranhos pelo interesse que temos em perceber porque se vestem assim, porque usam determinados acessórios. Pelo interesse que temos em entender os seus costumes, as regras, as diferentes formas de viver. Pelo interesse que temos em conhecer a cultura que está atrás de tudo isto que contemplamos.

A Potosí chegamos à noite e fomos avisados pela senhora que ia sentada ao nosso lado que seria perigoso caminhar com as nossas mochilas às costas até ao centro à procura de um hostel e, por isso, optamos por ficar no primeiro que encontramos. As acomodações não foram as melhores, a água quente e o wifi são coisas que não são tidas como certas nos alojamentos que encontramos. Pode ter ou não. Pode funcionar ou não. Mas foi um lugar onde conseguimos descansar e carregar energias. No dia seguinte, esperamos a Noelle e o Jan, o nosso casal amigo de holandeses. Eles decidiram mudar os planos que haviam traçado e estavam decididos a viajar connosco pela Bolívia! E assim o fizeram, no dia seguinte partimos à descoberta de Potosi, os quatro, e percebemos que não havia muito para conhecer ali. Sentamos num café – o único local onde vimos turistas –  e ficamos a apreciar da enorme janela a agitação da praça principal. As mulheres sentadas nos bancos com os 6 filhos à volta. Todos a brincar no chão, no jardim, com a terra, com a água, com os cães que passam. As mulheres com a mão estendida a pedir dinheiro aos turistas. Os homens a venderem chocolates, água, bolachas em barraquinhas ambulantes. As crianças a fazerem as suas necessidades na rua, num canto, na esquina, em qualquer lugar. Caminhamos pelas ruas e visitamos alguns pontos turísticos e seguimos para Sucre.

Chegamos a Sucre e ficamos a saber que os hosteis na Bolívia não têm cozinha, é normal lá. Mas resolvemos ficar num bom hostel que encontramos e perceber como os turistas e viajantes fazem e como se adaptam. Nem imaginávamos como era bom este hostel. Limpo e organizado. Com pessoas que falavam inglês. Cheio de viajantes como nós. Com um pequeno almoço de agradecer, todos os dias, a alegria de estarmos a visitar aquele lugar. E passamos os dias seguintes a descobrir a cidade. A perceber como a comida na rua é barata e como fica mais barato comer num restaurante destes ao invés de comprar coisas para cozinhar. A aprender a história desta cidade e deste povo. A apreciar a confusão instalada à volta do mercado e nas ruas principais de dezenas de pessoas a tentar vender de tudo. A aproveitar o chuveiro quente do hostel. A aproveitar a pressão do chuveiro (finalmente!). A visitar o mirador, o cemitério, as praças principais, a catedral e tantos outros pontos turísticos que realmente valem a pena visitar. Sucre é uma cidade que nos transporta para o passado, altura da invasão espanhola, cheia de construções da época colonial, desde as casas até ás igrejas! Passamos dias felizes em Sucre. Felizes com a beleza de Sucre. Felizes por estarmos aqui. E por estarmos aqui com o Jan e a Noelle.

Seguimos todos para La Paz, onde decidimos passar o Natal. A nossa viagem de autocarro foi bem diferente. Desde que entramos na Bolívia que os autocarros são mais velhos, mais sujos, com menos condições, sem casa de banho e os condutores gostam de acelerar em momentos em que travar seria a coisa certa a fazer. Mas nesta viagem de 12 horas, feitas durante a noite, foi tudo ainda pior. A viagem em si foi terrível para nós, sempre com medo de provocarmos um acidente em que nós próprios não íamos ficar bem. E para além disto, sempre que a vontade de ir à casa de banho apertava, bastava pedir ao condutor e quando um número razoável de pessoas se juntava a pedir, o condutor parava em qualquer estrada com um pouco de espaço e todos saiam e rodeavam o autocarro para fazer as suas necessidades. A primeira vez que saímos ficamos a observar o que aquelas pessoas estavam a fazer, as mulheres baixavam-se na estrada, o homens procuravam um muro… e nós, incrédulos com o que víamos, fizemos o mesmo.

No dia 24 passamos o dia a passear pelas ruas confusas, cheias e sujas de La Paz. Não sabemos se foi por ser Natal ou se é usualmente assim, mas esta cidade é uma verdadeira confusão. Mas conseguimos contactar uma família de La Paz e pedir que nos recebessem para a ceia de Natal. Aceitaram, muito felizes, e deram-nos indicações para que estivéssemos às 8h numa igreja um pouco distante da cidade e depois seguiríamos com eles para casa deles. Apanhamos um táxi, confiando que nos deixaria no sítio certo na hora marcada, mas ao invés disso, o taxista manhoso deixou-nos numa outra igreja, bem mais perto e cobrou o mesmo. Nós, movidos pela época natalícia, ao pagar demos-lhe um bónus e agradecemos profundamente por naquele dia estar a trabalhar e nos levar ao nosso destino. E foi quando saímos do taxi, e ainda em agradecimentos, que descobrimos que estávamos no sitio errado. Um casal que estava a entrar naquela igreja foi bastante carinhoso e ao ver a nossa aflição, chamou um novo taxi e garantiu que nos levaria ao sítio certo por um preço já acordado, para que não fossemos enganados mais uma vez.

Depois de algum atraso, chegamos à igreja certa e ao entrar fomos logo reconhecidos pela família que olhava fixamente para a porta, esperando a nossa chegada. Sentamo-nos perto deles e ouvimos a missa. Em espanhol. Reconhecemos algumas coisas, outras não. Mas os rituais são semelhantes aos nossos e nós estávamos contentes por estarmos a viver os costumes daquela família. Seguimos para casa deles e fomos acolhidos com um amor enorme, é inexplicável a diferença que esta família fez no nosso natal e na nossa vida.

Eles aceitaram acolher o Jan e a Noelle também, por isso, o nosso jantar teve sempre traduções Inglês – Espanhol, e todos fizeram um esforço para comunicar e para se entenderem e jantamos. À luz das velas da mesa. Com as iluminações de Natal que enchiam toda a sala de jantar. Com as grandes janelas de vidro à volta da sala a revelar a imensa chuva lá fora. Com risos. Com partilhas de histórias. Com os pratos cheios. Com brindes. Com boa e diferente comida. Com tanta mas tanta alegria. Com o coração cheio.

E todos ajudaram, a encher a mesa com as coisas e a esvaziá-la. A decorar as bolachas com formas de enfeites de natal e a comê-las. A fazer jogos. A limpar tudo. Todos ajudaram, enquanto falavam uns com os outros. E chegou à meia noite! E ficamos parados, sem saber o que era habitual fazerem à meia noite. Provavelmente se estivéssemos na nossa casa, uns estavam a trocar presentes, outros estavam a ver o fogo-de-artífico, outros a dormir… Aqui a família abraça-se. Todos trocam abraços de felicidade, abraços calorosos que nós trocamos com tanto agradecimento que não cabia nas palavras. E fizemos um jogo! O costume desta família é ter apenas uma prenda e todos participam num jogo super divertido até uma pessoa ganhar e ficar com a prenda. O vencedor, um senhor da família, ganhou o seu presente – uma caixa de chocolates – que partilhou com todos!

É impossível explicar o que sentimos nesta noite. A felicidade não cabe de tão grande, de tão cheia, de tão completa. Estas pessoas fizeram-nos sentir parte da família. Sem pedir nada em troca. E como é bom sentirmo-nos numa família quando a nossa está tão longe de nós. Como é bom sentir este amor e esta alegria numa noite em nunca tínhamos estado tão distantes dos nossos. E ainda nos agradeceram por estarmos ali, por confiarmos neles, por lhes termos dado o prazer de receber pessoas novas, de abrir as portas e oferecer o melhor que têm. Mas na verdade, nós é que temos muito para agradecer.

A toda esta família, o nosso eterno agradecimento. Vão ser lembrados por muito tempo!

No dia 25 não queríamos ficar no hostel, em permanentes tentativas falhadas de aceder ao wifi e falarmos com as nossas famílias. Não queríamos passar o nosso Natal assim e, por isso, resolvemos fazer alguma coisa bem diferente, para nunca mais esquecermos. O nosso dia começou bem cedo e fomos para a famosa Death Road, a estrada mais perigosa da Bolívia, responsável por imensas mortes do povo Boliviano há muitos ano atrás e ainda hoje em dia. Agora, embora ainda seja utilizada como estrada de acesso a La Paz, já existe uma nova estrada e esta tornou-se um ponto de muito turismo. E nós percorremo-la de bicicleta! Os turistas que morrem nesta estrada são pessoas que arriscam demasiado, que não medem os riscos, que estupidamente se aventuram em locais onde são avisados para terem cuidado. Nós mantivemo-nos atentos ao que nos era dito e percorremos a estrada com o todo o cuidado e adrenalina possível. E que grande aventura!!! Ao fim de 4 horas a pedalar naqueles estradas em que a bicicleta está constantemente a fugir das milhares de pedras no caminho, não tínhamos força dos pulsos e nos braços (de ir sempre a travar) e estávamos super entusiasmados. A viagem correu lindamente e foi uma experiência incrível. À noite, exaustos de cansaço mas cobertos de felicidades, fomos descansar!

E a aventura seguinte foi Copacabana! Uma pequena vila que rodeia um pouco do lago Titicaca, bem turística. Com luzes e cor! Com musica e alegria. Passamos apenas uma agradável noite e apanhamos o barco para a Isla del Sol.

A Isla del Sol era diferente de tudo o que tínhamos visto até agora, embora não nos fizesse esquecer que estávamos na Bolívia – era preciso pagar para entrar, para caminhar, para qualquer coisa! Mas era diferente porque era um local limpo e amplo, bem diferente do que estávamos acostumados. O Lago Titicaca tem um encanto especial, é muito azul, muito bonito e a ilha onde estávamos fazia-nos recuar no tempo, bem antes dos Incas, devido ás suas encostas cravadas de terraços para agricultura que se mantêm com o passar dos séculos e às ruínas que lá existem. Fez-nos também entrar numa outra realidade: a nossa aventura na Bolívia estava a acabar e estávamos prontos para entrar no Peru, onde novas aventuras nos esperam!

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